Os análogos do GLP-1 e a tirzepatida revolucionaram o tratamento da diabetes tipo 2 e da obesidade, proporcionando não apenas melhora no controle glicêmico, mas também redução significativa de peso. No entanto, a rápida perda de peso gerada por esses medicamentos levanta preocupações sobre seus efeitos na massa óssea e o possível aumento do risco de osteoporose e fraturas.
Mas, afinal, esses medicamentos realmente comprometem a saúde óssea? Vamos analisar o que os estudos mais recentes dizem sobre essa relação.
Destaques do artigo
- Os análogos de GLP-1 podem ter efeitos mistos sobre a saúde óssea
- A tirzepatida pode influenciar o metabolismo ósseo devido à perda rápida de peso
- O impacto sobre a densidade óssea parece variar conforme idade, sexo e condição clínica
- Alguns estudos sugerem que GLP-1 pode ter efeitos protetores em certos contextos
- Acompanhamento médico e estratégias de prevenção são essenciais para evitar osteoporose
O Que São os Análogos de GLP-1 e a Tirzepatida?
Os agonistas do receptor do GLP-1 (Glucagon-Like Peptide-1) são então uma classe de medicamentos amplamente utilizados no tratamento do diabetes tipo 2 e, mais recentemente, na perda de peso. Entre os mais conhecidos, estão:
- Semaglutida (Ozempic, Wegovy)
- Liraglutida (Victoza, Saxenda)
- Dulaglutida (Trulicity)
A tirzepatida (Mounjaro e Zepbound) portanto é um medicamento inovador que combina a ação do GLP-1 com outro hormônio, o GIP (polipeptídeo inibidor gástrico), promovendo uma redução de peso ainda maior.
Mas o que isso tem a ver com ossos?
Perda de Peso e Massa Óssea: Qual a Conexão?
A perda de peso rápida, especialmente em indivíduos com obesidade, pode levar à redução da densidade mineral óssea (DMO). Isso acontece porque:
- O tecido adiposo contudo tem um papel na produção de hormônios e citocinas que afetam o metabolismo ósseo.
- A redução do peso corporal diminui a carga mecânica sobre os ossos, levando a uma possível redução da formação óssea.
- Durante a perda de peso, pode assim ocorrer um aumento na reabsorção óssea (destruição do tecido ósseo), aumentando o risco de osteoporose e fraturas.
A grande questão é: os análogos de GLP-1 e a tirzepatida pioram esse processo?
O Impacto dos Análogos de GLP-1 na Saúde Óssea
Estudos contudo sugerem que os análogos de GLP-1 têm efeitos mistos sobre os ossos.
- Efeito Protetor Possível
Algumas pesquisas indicam que o GLP-1 pode ter um efeito positivo na formação óssea. Segundo Yavropoulou et al. (2021), os receptores de GLP-1 estão presentes nos osteoblastos (células que formam os ossos), sugerindo um possível estímulo na produção óssea (Yavropoulou MP, et al. Front Endocrinol (Lausanne). 2021;12:803291). - Efeito Negativo: Perda Óssea Associada à Perda de Peso
Por outro lado, a rápida perda de peso induzida por esses medicamentos pode estar associada à redução da densidade mineral óssea. Um estudo de Krolczyk et al. (2023) indicou que pacientes em uso prolongado de semaglutida apresentaram redução da DMO, especialmente em idosos e mulheres na pós-menopausa (Krolczyk G, et al. J Clin Endocrinol Metab. 2023;108(5):1307–1318).
Ou seja, os efeitos podem variar dependendo da idade, sexo e condição clínica do paciente.
Tirzepatida e Saúde Óssea: O Que os Estudos Dizem?
A tirzepatida, por combinar a ação de GLP-1 e GIP, poderia teoricamente ter um efeito ainda mais pronunciado sobre os ossos.
- O GIP e a Formação Óssea
O GIP (polipeptídeo inibidor gástrico) parece ter um papel mais protetor para os ossos. Estudos indicam que o GIP pode: - Estimular os osteoblastos (células formadoras de osso)
- Reduzir a reabsorção óssea
- Melhorar a densidade óssea em modelos experimentais
Contudo, um estudo de Cosman et al. (2023) mostrou que a perda de peso promovida pela tirzepatida pode superar os possíveis benefícios do GIP, resultando em redução da densidade óssea (Cosman F, et al. Bone. 2023;174:116825).
Isso significa que, embora a tirzepatida possa ter efeitos positivos diretos no osso, a perda de peso rápida ainda pode levar a um impacto negativo na densidade mineral óssea.
Quem Está em Maior Risco de Osteoporose com Esses Medicamentos?
- Mulheres na pós-menopausa – já apresentam perda óssea natural e podem ter risco aumentado.
- Idosos – a densidade óssea naturalmente diminui com a idade.
- Indivíduos com histórico de osteoporose – o uso desses medicamentos pode acelerar a perda óssea.
- Pacientes com baixa ingestão de cálcio e vitamina D – esses nutrientes são essenciais para a saúde óssea.
- Indivíduos que não têm indicação do uso desses medicamentos – atualmente com na intenção de atingir a “magreza social” muitos indivíduos têm feito uso – eventualmente até mesmo sem seguimento médico – desses medicamentos para atingir um padrão estético social. No entanto, nesse contexto, pessoas que já são magras que ficam em jejuns prolongados sob efeito da medicação para emagrecerem ainda mais – estariam sob risco ainda maior de desenvolver osteoporose – mas ainda não há estudos para confirmar essa afirmação e provavelmente não haverão devido ao problema ético de realizar um estudo dessa forma: induzir pessoas magras a usar medicamentos para emagrecer sem indicação para ver se elas desenvolvem essa tão preocupante doença que é a osteoporose.
Como Proteger os Ossos Durante o Tratamento?
- Monitoramento da densidade óssea (DMO) em pacientes de alto risco.
- Suplementação de cálcio e vitamina D conforme orientação médica.
- Exercícios de resistência (musculação, pilates, caminhadas) para estimular a formação óssea.
- Evitar dietas extremamente restritivas, que podem agravar a perda óssea.
- Acompanhamento médico para ajustes na dose ou mudança de tratamento, se necessário.
Conclusão: Os Análogos de GLP-1 e a Tirzepatida Agridem os Ossos?
Os análogos de GLP-1 e a tirzepatida trazem inúmeros benefícios para o controle glicêmico e perda de peso. No entanto, a rápida redução do peso corporal pode levar a uma perda óssea, aumentando o risco de osteoporose e fraturas, especialmente em grupos vulneráveis.
Embora haja indícios de que o GLP-1 possa ter efeitos protetores nos ossos, os estudos ainda não são conclusivos. Assim, é essencial que pacientes, principalmente os de alto risco para osteoporose, sejam monitorados e sigam estratégias para preservar a massa óssea.
Se você está em tratamento com esses medicamentos, converse com seu médico sobre formas de proteger sua saúde óssea!